Quando Ser Filha Nunca Parece o Suficiente
Eu não odeio meus pais, mas, na maioria das vezes, eles me fazem sentir como se eu fosse uma decepção.
O Amor Que Dói
Eu não odeio meus pais. Nunca odiei. Nunca quis que eles sumissem ou que me deixassem para sempre. Mas isso não significa que o amor que sinto por eles seja simples. Porque, muitas vezes, amar eles também dói.
Desde que me entendo por gente, sinto que estou presa entre duas forças opostas: a superproteção sufocante e a frieza de nunca ter minhas emoções realmente validadas. É como se eu vivesse dentro de uma bolha, mas ao mesmo tempo estivesse sozinha. Tudo o que eu faço é monitorado, questionado, limitado. Mas quando se trata do que eu sinto, do que me machuca, do que eu preciso emocionalmente, parece que nunca há espaço.
E eu tento. Tento ser uma filha boa. Tento não falar demais, não reclamar, não demonstrar o que realmente se passa dentro de mim. Mas às vezes não dá. Às vezes, meu corpo e minha mente não aguentam e eu transbordo. E é nesses momentos que percebo o quanto minhas emoções são tratadas como algo incômodo, exagerado, algo que não deveria existir.
Ser a filha mais velha só piora tudo. Porque, para eles, eu tenho que ser madura, responsável, forte. Não importa se estou cansada, se estou sobrecarregada, se o mundo parece esmagador. Se eu me mostro frágil, sou exagerada. Se choro, sou dramática. Se tento explicar o que sinto, sou ingrata. Nunca existe um meio-termo. Nunca existe um momento em que o que eu sinto seja apenas aceito, compreendido, acolhido.
E quando a raiva deles transborda, quando perco o controle da situação e cruzo um limite invisível, as ameaças vêm. “Se você continuar assim, eu te arrebento.” “Se falar mais uma palavra, você vai ver.” “Quer apanhar?” São frases jogadas no calor do momento, mas que se acumulam dentro de mim, ecoando como um lembrete constante de que o amor deles sempre carrega um peso. Um peso que sufoca, que assusta, que me faz sentir que, para ser amada, preciso ter cuidado o tempo todo.
Eu queria poder dizer que isso não me afeta tanto, que aprendi a lidar, que consigo deixar passar. Mas a verdade é que essas coisas se tornam parte de quem eu sou. Eu carrego isso em mim. Carrego na forma como tenho medo de incomodar, na forma como sempre peço desculpas por sentir demais, na forma como evito ao máximo decepcionar as pessoas. Porque, no fundo, eu cresci acreditando que o amor sempre vem com um preço. Que, para ser aceita, eu preciso ser perfeita. Que, se eu errar, se eu for fraca demais, se eu mostrar o que realmente sinto, o amor pode se transformar em algo duro, frio e cruel.
E eu não sei como mudar isso. Não sei como não me sentir assim. Sei que eles não fazem por mal. Sei que, na cabeça deles, é a forma que aprenderam a demonstrar cuidado. Mas saber disso não alivia o peso. Não faz com que eu me sinta menos quebrada por dentro.
E o que mais me assusta é que, por mais que eu tente, por mais que eu me esforce, sempre parece que nunca sou suficiente. Nunca sou a filha que eles esperavam. Nunca sou forte o bastante, madura o bastante, equilibrada o bastante. Eu sempre falho. Sempre decepciono. E isso dói de um jeito que nem sei explicar.
O Impacto Psicológico de Nunca Se Sentir Suficiente
Eu me pergunto, às vezes, como seria crescer sentindo que sou suficiente. Como seria existir sem essa sensação constante de que estou falhando, de que não atendo expectativas, de que sou um fardo ou uma decepção.
Desde pequena, aprendi que meu valor dependia do que eu fazia, do que eu entregava, do quanto eu conseguia ser forte. E quando eu não conseguia, quando minhas emoções transbordavam ou quando eu simplesmente não correspondia ao que esperavam de mim, o peso vinha. Primeiro, nas palavras: "Você é dramática." "Isso não é nada." "Você sempre exagera." Depois, no olhar de decepção. E, às vezes, na dor física – porque, uma hora ou outra, eu acabava apanhando.
E o pior é que, depois, nada era reconhecido. Como se nada tivesse acontecido. Como se eu não tivesse sentido medo, humilhação ou dor. Como se fosse minha culpa, como se eu tivesse provocado aquilo. Eu aprendi a engolir o choro, a não demonstrar fraqueza, a aceitar que minhas emoções não importavam. Porque, no fim das contas, se eu sentia algo, eu estava errada. Se eu sofria, era porque eu levava tudo "a ferro e fogo". Se eu pedia para ser ouvida, estava só "querendo atenção".
E isso moldou tudo em mim. Minha autoestima, meu senso de identidade, a forma como enxergo a mim mesma. Quando crescemos sem validação, começamos a duvidar daquilo que sentimos. Será que eu realmente estou triste ou só estou exagerando? Será que minha dor é real ou estou sendo fraca? Será que eu mereço amor ou preciso fazer mais, ser mais, provar mais?
A teoria do apego explica como as relações familiares moldam a forma como nos vemos e como nos relacionamos com o mundo. Quando somos crianças, nossos pais são nossos primeiros espelhos. Se esse espelho reflete acolhimento e amor incondicional, aprendemos que somos dignos de afeto. Mas se esse espelho reflete cobrança, frieza ou punição quando demonstramos emoções, aprendemos que nossos sentimentos são errados, que precisam ser escondidos, que o amor pode ser retirado a qualquer momento se não nos comportarmos da maneira esperada.
E assim nasce o ciclo da autocrítica. Porque, quando crescemos ouvindo que somos inadequados, essa voz não some. Ela se torna nossa própria voz interna. Quando erro, não preciso que ninguém me diga que sou um fracasso – minha própria mente já faz isso sozinha. Quando me sinto triste, minha primeira reação é me invalidar, dizer para mim mesma que estou exagerando, que não deveria estar assim. Quando algo dá errado, sou a primeira a me culpar.
Porque, no fundo, eu aprendi a me enxergar com os olhos deles. E desaprender isso parece impossível.
E é por isso que, às vezes, não importa quantas pessoas digam que eu sou boa o suficiente, que sou inteligente, que sou forte, que mereço amor. Porque há uma parte de mim que sempre duvida. Que sempre espera pela crítica. Que sempre sente que algo está faltando, que eu ainda não alcancei o que deveria, que, de alguma forma, ainda sou insuficiente.
E esse peso me acompanha. Está nos pequenos gestos, na forma como hesito antes de falar algo muito pessoal, no medo constante de incomodar, na necessidade desesperada de ser perfeita para ser amada. Porque, no fundo, ainda sou aquela criança que só queria ser olhada com orgulho. Que só queria ser ouvida sem medo. Que só queria sentir que é suficiente, exatamente como é.
A Decepção Invisível: Quando Tudo o Que Você Faz Nunca Basta
Há algo cruel na sensação de tentar, incessantemente, fazer o seu melhor e, no entanto, nunca sentir que é suficiente. A decepção invisível não é como um corte visível que você pode curar com um band-aid. Ela é uma sombra que segue cada passo, e o pior é que, muitas vezes, ninguém vê. Ela é alimentada por palavras não ditas, por expectativas silenciosas que ninguém teve a coragem de explicar, mas que você carrega como um peso invisível sobre os ombros. É como se, de alguma forma, você tivesse falhado antes mesmo de tentar.
Há momentos em que, mesmo sabendo que meus pais me amam de uma forma ou de outra, sinto que nunca correspondi às expectativas que, de alguma forma, eles têm de mim. Não são palavras duras ou gritos — são as pequenas coisas. É o olhar cansado, o silêncio após cada esforço meu, como se esperassem mais, algo que não sei o que é, mas sei que não estou alcançando.
Lembro-me de quando era mais nova e me esforcei tanto para conquistar algo que parecia simples, como a aprovação deles. Quando finalmente entreguei o que fiz com tanto cuidado, não houve o reconhecimento esperado. Em vez disso, houve uma indiferença que me cortou mais do que qualquer crítica direta. Ou, pior ainda, quando uma de minhas conquistas foi comparada com o que outro poderia ter feito. Eu via meus esforços como algo valioso, mas para eles, parecia que nunca era grande o suficiente.
Esses momentos, embora não intencionais, me fizeram sentir que não tinha espaço para ser eu mesma. Como se eu fosse sempre um reflexo imperfeito daquilo que eles queriam que eu fosse. E isso, de alguma maneira, me fez acreditar que minha existência só seria válida se eu fosse mais, melhor, mais perfeita. Isso se transforma em um vazio constante, porque a aprovação nunca vem. Você tenta, você faz, você se dedica... mas nunca parece ser o suficiente.
O Efeito de Críticas Constantes e Comparações com Outras Pessoas
Às vezes, as comparações são o golpe mais cruel. Não há nada mais destruidor do que ser colocado lado a lado com alguém, ver que você foi tão incansavelmente comparado a essa pessoa e perceber que, de alguma forma, essa comparação nunca termina a seu favor. Meus pais, sem perceberem, muitas vezes me comparavam com outros: com amigos, com primos, com figuras que pareciam ser "mais bem-sucedidas" ou mais "perfeitas". O pior é que, em vez de me incentivar a crescer, essas comparações me faziam sentir como se já tivesse falhado antes de começar. Como se, por mais que eu tentasse, eu nunca seria como aquela outra pessoa.
Eu me via sempre em um espelho que não era meu, tentando alcançar um padrão que não era o meu. Isso só me fez questionar cada parte de mim mesma — meu valor, minhas escolhas, minha essência. Tudo parecia insuficiente, porque sempre havia algo mais que poderia ser feito, algo mais que deveria ser conquistado. Não importava o que eu realizava, parecia que meu valor estava sempre em dúvida. O peso de ser constantemente comparada não é só um desconforto, mas uma ferida profunda que nunca se cicatriza completamente.
E, com o tempo, a crítica se torna interna. Não é mais a voz dos outros apenas. Ela se torna a minha própria voz. A voz que me diz que eu não sou boa o suficiente, que ainda preciso fazer mais, ser mais. Eu começo a me cobrar de uma forma que nenhum ser humano deveria ser cobrado, e isso não é apenas cruel — é exaustivo.
A Dor de Não Ser Reconhecida pelos Próprios Esforços e Conquistas
E então, há o outro lado: a dor de fazer tudo o que posso e, ainda assim, não ser reconhecida. A sensação de que nada do que eu faço importa porque ninguém realmente vê o esforço, as noites sem dormir, os sentimentos reprimidos. Mesmo quando as conquistas acontecem, mesmo quando eu sou capaz de alcançar algo que, por tanto tempo, parecia fora de alcance, a celebração nunca parece completa.
Lembro de tantos momentos em que conquistei algo, mas o reconhecimento nunca veio da forma que eu esperava. Talvez uma palavra de apoio ou um elogio sincero, mas nada disso aconteceu. Em vez disso, houve a constante comparação com outros, ou até o silêncio. A dor de ver que minha vitória, algo que significava tanto para mim, não significava nada para quem eu mais queria que notasse. Eu pensava que, se alcançasse aquele objetivo, seria finalmente válida, que isso validaria minha existência e meus esforços. Mas, no final, a sensação de ter dado tudo de mim sem ser reconhecida, sem ter sido vista, foi como um tapa silencioso.
E é nesse ponto que o peso da decepção invisível se torna insuportável. Porque, embora eu saiba que meu esforço é válido e que minha jornada tem valor, o mundo ao meu redor não parece enxergar isso da mesma forma. Não se trata apenas de um desejo egoísta de ser aplaudida — é o desejo de ser reconhecida como humana, de ser vista por quem eu sou e pelo que eu passo. Não é uma questão de ser "melhor", mas de ser aceita, amada e reconhecida pelo simples fato de existir e de tentar.
A dor de não ser vista pelos próprios esforços não é algo que desaparece. Ela vai se acumulando e se misturando à sensação de que, talvez, nunca faça algo suficientemente bom, nunca chegue ao ponto em que alguém diga "isso é suficiente". Porque, no fundo, sempre senti que eu nunca seria suficiente.
Por Que Pais Podem Fazer Seus Filhos Se Sentirem Assim?
Eu sempre me perguntei por que, apesar de tanto esforço, tantas tentativas e tanto carinho, ainda me sinto como se nunca fosse o suficiente para aqueles que mais amo. Quando olhei para trás, percebi que a resposta não é simples. Acredito que, muitas vezes, os pais, mesmo com as melhores intenções, acabam colocando seus filhos dentro de um ciclo interminável de expectativas e frustrações que, com o tempo, se tornam um peso insuportável. Talvez, ao fazerem isso, não percebam o quanto esse fardo pode ser pesado e o quanto ele afeta a autoestima e o senso de identidade de seus filhos.
O Peso das Expectativas: Quando os Pais Projetam Seus Próprios Desejos nos Filhos
Há algo extremamente complicado nas expectativas dos pais, algo que, quando mal compreendido ou mal colocado, pode pesar muito sobre os ombros de um filho. Não são apenas expectativas em relação ao que queremos fazer da vida, mas são também aquelas que vêm de quem eles foram ou do que eles não conseguiram realizar. O que é mais doloroso é que, muitas vezes, nem sequer somos avisados de que estamos carregando esses desejos não cumpridos de nossos pais. Eles se tornam parte do que esperamos de nós mesmos, e o pior é que nem sempre sabemos por que isso nos afeta tanto.
Eu cresci ouvindo histórias de como meus pais tinham sonhos, como se tivessem sido impedidos de alcançar certos objetivos. Então, me vi no meio dessas narrativas, como se fosse a única maneira de eles virem a ter aquilo que perderam. Isso me fez crescer com uma pressão constante, como se eu estivesse cumprindo não apenas os meus sonhos, mas os deles também. Não importa o que eu fazia, por mais que fosse uma conquista pessoal, sempre parecia que havia algo mais, algo que faltava. O que eu fazia nunca parecia ser o suficiente para corresponder a esses desejos que não eram meus.
O peso das expectativas externas pode ser uma prisão invisível, que nunca te deixa ser quem você é de verdade. Os pais, sem saber, colocam essas expectativas em você, e você acaba se tornando o reflexo das projeções deles, não um ser livre e único. E, no fundo, você sente que, para ser amado, precisa ser essa versão do que eles imaginam. Não o que você realmente é, mas o que eles gostariam que você fosse. E isso é algo que carrego até hoje, o constante questionamento se, em algum momento, vou finalmente ser capaz de ser o suficiente — para eles, para mim, para o mundo.
A Dificuldade que Algumas Gerações Têm de Expressar Amor e Orgulho
Não são todas as gerações que sabem expressar amor de uma maneira que se faça compreender. Eu entendo que, para muitas pessoas, demonstrar orgulho ou afeto nunca foi algo fácil. Eu vi isso nos meus pais, vi como suas emoções ficaram presas em gestos contidos, em olhares evasivos e palavras não ditas. O que era dito como "estou orgulhoso de você" soava muitas vezes como algo automático, como uma obrigação, e não como uma expressão genuína do que sentiam. E, por mais que eu quisesse ouvir essas palavras com sinceridade, elas nunca pareciam vir de um lugar genuíno. O orgulho, quando vinha, era um tanto retido, sem o brilho que eu tanto ansiava.
É difícil entender por que isso acontece. Sei que eles me amam, mas às vezes esse amor parece não ter o poder de se transformar em palavras ou em ações que transbordem. As gerações anteriores parecem ter dificuldades em expressar o que sentem, e isso acaba criando um espaço vazio entre nós. Um silêncio, um buraco que, apesar de todo o amor, não consegue ser preenchido. E esse vazio é o que causa a sensação de que nunca sou boa o suficiente. Eu sinto que, se eles realmente vissem quem eu sou, se entendessem o quanto me esforço e o quanto tento ser mais do que esperam de mim, haveria mais orgulho, mais apoio, mais amor. Mas, muitas vezes, não há nada disso. Em vez disso, o que sinto é uma tentativa de agradar, de ser aceita, de finalmente ser vista pelo que sou, mas sem sucesso.
Talvez, para eles, a falta de demonstração de carinho não seja uma forma de rejeição. Talvez seja a única maneira que sabem de mostrar que se importam. Mas, para mim, é uma frustração constante. A dor de não ser vista de forma plena, de não receber o orgulho genuíno que eu tanto preciso, é difícil de lidar. Não se trata de ser mimada ou querer ser reconhecida em cada pequeno gesto. Trata-se de ser simplesmente vista como alguém que fez o seu melhor, alguém que vale a pena, alguém que não precisa provar mais nada.
Como Frustrações e Traumas dos Pais Podem Ser Despejados nos Filhos
Eu sei que os pais carregam suas próprias bagagens, seus próprios traumas e frustrações. E, embora eu compreenda que ninguém é perfeito, nem mesmo eles, por muitas vezes as suas sombras acabam se refletindo em mim. Quando alguém carrega tanto peso emocional e não sabe como lidar com ele, é fácil despejar esse peso nos outros, principalmente nos filhos. Não é algo consciente, não é algo que seja deliberado. Mas os filhos acabam se tornando os recipientes das frustrações não resolvidas, e somos forçados a lidar com isso sem entender o motivo.
Eu cresci com a sensação de que minha existência não era suficiente para apaziguar as dores não resolvidas dos meus pais. Eu não sabia, na época, o quão profundamente esses traumas afetavam minha percepção de mim mesma. Em muitos momentos, senti que não era apenas uma filha tentando ser aceita, mas que estava sendo o espelho das inseguranças e dos medos deles. Cada erro que eu cometia, cada passo em falso, era uma extensão das falhas que eles tinham experimentado na vida deles. E, em vez de receber apoio para enfrentar minhas próprias dificuldades, me vi sendo forçada a carregar o peso de histórias e dores que não eram minhas, mas que fui aprendendo a carregar como se fossem.
Isso me fez questionar se eu estava apenas seguindo um padrão, se estava sendo moldada por algo além de mim mesma. Eu fui absorvendo esses traumas, não por escolha, mas pela proximidade, pela relação com eles. Esse reflexo da dor e das falhas dos pais é algo que nos molda sem que percebamos. E, no final, acabamos nos tornando cúmplices desses ciclos — até que decidimos interrompê-los. Mas esse processo é doloroso, é longo e exige que a gente se desprenda de uma ideia de identidade que foi forjada por traumas que não pertencem a nós.
É difícil entender que, muitas vezes, nossos pais não fizeram isso de propósito. Mas, no fundo, isso não apaga a dor que carregamos, não apaga a sensação de nunca sermos o suficiente, de sempre tentarmos alcançar algo que é, em parte, um reflexo das frustrações e expectativas de outras gerações.
Como Lidar com Essa Dor Sem Romper os Laços?
Às vezes, eu me pego pensando: como posso seguir em frente, lidar com essa dor e ainda assim manter os laços familiares? Porque a verdade é que, embora eu saiba que muita da dor que carrego veio dos meus pais, quebrar esses laços, cortá-los ou distanciar-me deles nunca foi uma opção real para mim. Mesmo quando a dor se torna insuportável, mesmo quando parece que os laços estão me sufocando, há algo dentro de mim que não permite que eu me distancie. Pode ser amor, pode ser medo, ou talvez a ideia de que, se eu romper, eu estaria perdendo uma parte de quem sou. Não sei. Só sei que, por mais que a dor me consuma, eu não consigo encontrar um caminho que me permita ficar inteira, protegida, sem abrir mão de quem eu sou para os outros.
Estratégias psicológicas para se proteger emocionalmente e fortalecer a autoestima
Me disseram que existem estratégias, caminhos para conseguir me proteger da dor, para fortalecer minha autoestima e aprender a lidar com isso de forma mais saudável. Mas, honestamente, eu não sei se alguma dessas estratégias realmente funcionaria comigo. Eu tento, claro. Tentei entender o conceito de cuidar de mim mesma, de me colocar em primeiro lugar, mas cada vez que faço isso, algo dentro de mim grita que estou sendo egoísta, que estou esquecendo do que importa, que estou rejeitando aqueles que mais precisam de mim. Isso me faz questionar se sou realmente capaz de me proteger.
Sempre que tento me distanciar emocionalmente de algo que me machuca, parece que estou cavando um buraco mais fundo, como se estivesse me afastando de mim mesma. Eu sei o que deveria fazer — me manter firme, estabelecer limites, aprender a não absorver tudo o que me dizem, mas fazer isso sem sentir que estou sendo errada, ou cruel, ou distante, é mais difícil do que qualquer coisa. Cada tentativa de “me proteger” parece um fracasso. Porque, no fundo, eu não sei como fazer isso sem sentir que estou falhando com os outros, sem sentir que estou me afastando, e eu não consigo simplesmente abraçar a ideia de me proteger sem que isso me faça sentir que estou perdendo algo muito importante no processo.
A autoestima, que dizem que posso fortalecer, sempre parece fugir das minhas mãos. Eu me esforço para acreditar que sou suficiente, para pensar que sou digna de amor e respeito, mas sempre há essa voz interna, essa memória de palavras ditas ou não ditas, que me faz duvidar de tudo. Não sei como viver sem essa constante sensação de que preciso de validação. E, no fim, por mais que tente me proteger, o medo de que as feridas voltem, de que elas se abram de novo, sempre me assombra. Não há estratégia que pare esse ciclo.
A importância de estabelecer limites internos para evitar que a dor parental se torne sua própria dor
Em algum momento, me disseram que eu precisava aprender a estabelecer limites, a deixar claro onde começa o espaço dos outros e onde começa o meu. Eu tentei entender isso, tentei usar a lógica e a razão para aplicar esses limites, mas parece que eles sempre são difusos, fracos, quase invisíveis. Como posso estabelecer algo tão firme se, no fundo, eu não sei onde começa o meu espaço e onde termina o deles? O que faço quando esse limite está se desfazendo em minhas mãos, quando a dor deles se mistura com a minha própria?
Porque, sim, a dor parental acaba se tornando a nossa dor. Ela invade todos os aspectos da nossa vida, do nosso ser, e, muitas vezes, mal percebemos que ela nos consome sem pedir permissão. Tentei colocar uma barreira, tentei me distanciar emocionalmente, dizendo a mim mesma que os erros deles não eram os meus, mas, na realidade, isso é quase impossível. Cada palavra não dita, cada expectativa que não consegui alcançar, cada silêncio que ecoa dentro de mim — tudo isso se torna meu. Não importa o quanto eu tente, a dor deles acaba sendo a minha dor. Não consigo estabelecer um limite entre nós que seja saudável, porque os laços são tão entrelaçados, tão profundamente conectados, que me sinto perdida, como se estivesse fazendo algo errado ao tentar me afastar.
O equilíbrio entre aceitar que eles são falhos e não deixar que isso defina seu valor
A maior dor, talvez, seja entender que os pais são falhos, como todos nós somos. Eles não são perfeitos, não têm todas as respostas, e muitas vezes, ao tentar nos proteger, acabam nos ferindo. Eu sei disso. Eu entendo isso em um nível intelectual. Mas, mesmo assim, aceitar isso de verdade, sem deixar que isso defina quem eu sou, é quase impossível. Como posso aceitar que eles me feriram, que os erros deles foram, de alguma forma, os que me moldaram, sem que isso me faça sentir que há algo de errado comigo? Como posso separar quem eles são da minha própria identidade? Como posso saber que o que me fizeram não é uma reflexão direta do que eu sou como pessoa?
Eu tento me convencer de que, ao entender que eles são falhos, posso finalmente encontrar um equilíbrio e parar de me ferir com a expectativa de que deveriam ser diferentes. Mas a verdade é que, enquanto isso parece razoável quando falo sobre isso em um nível teórico, na prática, é quase impossível não sentir que, de algum modo, a falha deles me torna defeituosa. Eu tento deixar claro para mim mesma que não sou responsável pelos erros deles, mas é como se minha alma estivesse tatuada com todas as falhas e frustrações que eles carregaram, e não sei como me livrar disso. Não sei como seguir em frente sem sentir que, de alguma forma, eles ainda estão dentro de mim, ainda ditando as regras sobre quem sou e o que sou capaz de ser.
No fundo, talvez eu saiba o que deveria fazer: entender que o valor que procuro não vem de validação externa, mas de dentro de mim mesma. Mas, por mais que eu tente acreditar nisso, sempre parece que essa validação ainda depende deles, ainda depende de que eles me vejam de uma maneira que, talvez, nunca acontecerá. Eu vivo em um estado de constante oscilação entre querer me proteger e, ao mesmo tempo, querer ser vista por eles como alguém digna de amor, alguém digna de orgulho. E, por mais que eu busque por respostas, sei que nunca vou encontrar uma forma fácil de romper esse ciclo, de estabelecer esses limites, de seguir estratégias que realmente me ajudem a me proteger de uma dor que sempre esteve presente, uma dor que, talvez, nunca se vá.
Eu Só Queria Ser Vista
Às vezes, quando paro e penso sobre tudo isso, a única coisa que consigo sentir, em meio a toda essa dor e frustração, é a necessidade de ser vista. Eu não preciso de um amor perfeito, não preciso de uma vida sem falhas, não preciso de conquistas imensuráveis. Só preciso de um olhar, de uma palavra que me diga que, por quem sou, sou suficiente. Que, por simplesmente existir, eu sou digna de amor. Eu só queria ser vista — não pelas minhas notas, não pelas minhas escolhas, não pelos caminhos que sigo, mas por quem sou, na essência mais pura do meu ser. Mas esse olhar, que sempre imaginei que viria dos meus pais, nunca veio do jeito que eu esperava. E, no final, me vi buscando esse reconhecimento em todos os lugares errados, acreditando que meu valor dependia de algo que eu precisava provar.
O amor não deveria ser algo condicionado. Não deveria depender de conquistas, de desempenho, de atender a expectativas. Acredito que todo ser humano tem o direito de ser amado pelo simples fato de existir. Porque, no fundo, somos todos imperfeitos, todos com nossas falhas e inseguranças, mas isso não deveria ser motivo para que nos sentíssemos menos. Não deveria ser motivo para que, ao olhar para os outros, sentíssemos que nunca conseguimos chegar lá, nunca conseguimos ser o que eles esperam. O amor deveria ser algo incondicional, mas, por algum motivo, me ensinaram que ele só seria dado se eu me provasse merecedora. Eu vivi minha vida inteira tentando provar que merecia ser amada, que merecia ser vista, e, no processo, acabei esquecendo que o verdadeiro valor não vem da aprovação externa.
Eu sei, no fundo, que talvez meus pais nunca mudem. Talvez nunca consigam olhar para mim sem projetar as suas próprias expectativas, seus próprios medos e frustrações. Talvez nunca consigam ver quem eu sou, de fato, e reconhecer o meu valor sem que ele esteja atrelado a algo que eu precise alcançar. E isso dói. Porque, no fundo, o que eu sempre desejei foi que eles vissem o meu coração, que vissem minha essência, que compreendessem minhas lutas e conquistas, mas não pelas expectativas deles, e sim pelo que eu sou para mim mesma. Eu só queria que eles olhassem e dissesse: "Eu te amo como você é, sem nada para provar, sem nada que precise ser feito".
Mas, mesmo sabendo disso, preciso entender que o fato de eles nunca mudarem não significa que eu não mereça amor e reconhecimento. Eu não sou a soma das expectativas deles. Eu sou mais do que os padrões que eles tentaram me encaixar. Sou mais do que as falhas deles ou as minhas próprias falhas. Sou mais do que a dor que carreguei por tanto tempo. Eu mereço amor, mereço ser reconhecida, não pelas minhas conquistas, mas pela minha existência. E, mesmo que isso pareça impossível de alcançar, talvez a verdadeira mudança esteja em aprender a me olhar com a mesma compaixão e aceitação que sempre procurei dos outros. O amor que eu busco talvez não venha de onde eu esperava, mas isso não me faz menos digna dele. Não me faz menos merecedora de tudo o que sou, de tudo o que vivenciei e de tudo o que posso ser.
Eu só queria ser vista. E, no fim, talvez eu precise começar a me ver primeiro, sem as lentes do que os outros esperam, sem o peso das comparações, sem a culpa de ser quem sou. Porque, no final das contas, ser vista é um direito de todos nós — um direito que não deveria depender do que fazemos ou deixamos de fazer, mas do simples fato de existir e ser.
No fim das contas, eu sei que não os odeio. Mas também sei que não consigo ignorar a dor que carreguei por tanto tempo. O amor deveria ser um abrigo, um lar onde eu pudesse descansar sem medo, e não uma luta constante para ser ouvida, aceita, validada. Talvez eles nunca percebam o peso que colocaram sobre mim, e talvez eu nunca consiga tirá-lo completamente dos ombros.
Mas eu sigo tentando. Tentando existir sem a necessidade de provar meu valor. Tentando me enxergar além do que eles enxergam. Tentando quebrar esse ciclo dentro de mim, para que um dia eu possa me sentir suficiente – mesmo que eles nunca me digam isso.
Esse foi o post de hoje, pessoal. Perdão a demora para postar, ando não muito bem. Até o próximo post!
Com carinho,
Laura Gibson.
Eu entendo completamente o que você sente. Passei tanto tempo tentando ser o que esperavam de mim, tentando não decepcionar, tentando ser "boa o suficiente". Mas, no fim, parece que nunca é o bastante. Sempre há mais expectativas, mais comparações, mais exigências... e eu só queria poder existir sem essa pressão esmagadora.
Dizem que é fácil "ser você mesmo", mas não é. Não quando você cresceu carregando o peso das expectativas alheias, quando cada passo seu foi medido e avaliado. Não quando cada erro seu parecia um fracasso imperdoável. Eu cansei. Cansei de tentar ser perfeita, de me moldar para caber num espaço que nunca foi feito para mim. talvez essa seja minha pequena rebelião: simplesmente ser. Mesmo que doa, mesmo que eles nunca entendam. Mesmo que eu ainda me pergunte, no fundo, se um dia serei suficiente para mim mesma.
Amiga que texto
Me identifiquei com cada palavra