Quando Todos São Incríveis Menos Eu: A Autoaversão e o Efeito Rose Quartz
Quando Todos Parecem Brilhar – e Eu Só Quero Desaparecer
A Dor de Se Ver Como Menos
É estranho perceber que, para mim, todo mundo parece ser melhor. É como se o universo tivesse distribuído carisma, beleza, inteligência e propósito para todas as pessoas ao meu redor e, quando chegou a minha vez, sobraram apenas falhas, defeitos e insuficiência. Sei que não é assim, que cada pessoa carrega suas próprias dores e inseguranças, mas ainda assim, não consigo me ver de outra forma.
É um ciclo que se alimenta sozinho: me comparar com os outros, me sentir inferior, tentar me convencer de que não sou tão ruim assim, falhar nessa tentativa e voltar para o mesmo buraco de sempre. Eu poderia ser mais interessante. Poderia ser mais bonita. Poderia ser mais confiante. Mas nunca sou.
O pior é que não é apenas uma questão de baixa autoestima — é uma forma de ver o mundo que se tornou quase uma verdade absoluta na minha cabeça. Eu enxergo todo mundo como alguém incrível, especial, cheio de qualidades que eu nunca terei. Enquanto isso, quando olho para mim, vejo apenas o oposto. Como se eu fosse uma tela em branco sem nada de extraordinário, sem nada que valha a pena ser admirado.
Isso afeta tudo. Meus relacionamentos, minha forma de existir no mundo, até mesmo as coisas que escolho ou deixo de fazer. Quando você tem certeza de que é a pessoa menos interessante em qualquer sala, começa a falar menos, a se esconder, a evitar tentar coisas novas porque já "sabe" que não vai ser boa o suficiente. Deixa de se permitir ser visto porque tem medo de ser visto exatamente como se enxerga: insuficiente.
E o mais louco é que eu não vejo os defeitos dos outros da mesma forma que vejo os meus. Eu passo um pano gigantesco para as falhas de todo mundo. Eu racionalizo, entendo, justifico. Mas quando se trata de mim, sou impiedosa. Como se eu não tivesse o direito de errar, de ser comum, de apenas existir sem ser especial.
O impacto disso é devastador. Porque quando você acredita que não vale nada, aceita qualquer coisa. Se contenta com migalhas, não se impõe, não se dá o direito de exigir respeito, amor ou reconhecimento. Se vê como algo descartável. E, pior ainda, se convence de que essa visão é real.
Mas será que é? Será que eu sou mesmo menos que todo mundo, ou será que me ensinaram a me ver assim? Talvez a resposta esteja em algum lugar entre essas duas perguntas. E talvez seja isso que eu precise descobrir.
Rose Quartz: O Ícone da Idolatria e da Culpa
Se existe um personagem que encapsula perfeitamente essa ideia de enxergar os outros como seres superiores e inatingíveis, esse personagem é Rose Quartz. Em Steven Universe, Rose é uma lenda viva – ou melhor, uma lenda morta, porque sua presença se mantém através das memórias e percepções daqueles que ficaram. Para Pearl, ela era uma deusa. Para Garnet, uma líder sábia. Para Steven, uma mãe perfeita que deixou para ele um legado impossível de carregar.
E, por muito tempo, foi assim que eu enxerguei as pessoas ao meu redor: como se fossem grandiosas demais para serem tocadas por falhas ou erros, enquanto eu me afundava em tudo que achava que me tornava inferior. A história de Rose Quartz mostra como essa idealização pode ser perigosa – tanto para quem é colocado no pedestal quanto para quem se sente pequeno demais para sequer tentar subir nele.
Rose era vista como uma salvadora, uma guerreira corajosa que abandonou sua posição como Pink Diamond para lutar pela liberdade das Gems. Mas, ao longo da série, vamos descobrindo que essa imagem era apenas uma versão embelezada da verdade. Rose não era perfeita. Ela mentiu, manipulou, abandonou responsabilidades e escondeu segredos que custaram caro para aqueles que a amavam. Ela não era uma divindade sem falhas – era uma pessoa, ou melhor, uma gem, cheia de contradições e erros.
O que mais me marca nessa história é o jeito como Pearl a via. Pearl a adorava de uma forma quase doentia, colocando Rose num patamar onde ela nunca poderia errar, nunca poderia ser egoísta, nunca poderia ser qualquer coisa além de magnífica. Pearl era capaz de qualquer coisa por Rose – até mesmo apagar sua própria identidade para se tornar um reflexo do que Rose queria. E essa devoção cegou Pearl para muitas verdades. Assim como muitas vezes nos cegamos para os defeitos daqueles que admiramos.
Isso me faz pensar: quantas vezes eu fiz isso com as pessoas ao meu redor? Quantas vezes coloquei alguém em um pedestal tão alto que, inevitavelmente, eu só poderia me sentir ainda menor em comparação? Quantas vezes enxerguei os outros como seres brilhantes, enquanto me via como uma sombra sem nada de especial?
E depois tem Steven, que passou a vida tentando corresponder à imagem que os outros tinham de Rose. Ele herdou a expectativa de ser alguém incrível, sábio, bondoso e perfeito – exatamente como todos acreditavam que sua mãe era. Mas o peso disso o esmagou. Porque ninguém pode ser tão perfeito assim. E, no final das contas, Rose também nunca foi.
A idealização extrema é um veneno. Faz com que nos sintamos indignos, incapazes de nos igualar a quem admiramos. Nos faz esquecer que todo mundo, por mais incrível que pareça, tem suas próprias falhas, seus próprios arrependimentos, suas próprias partes sombrias. Rose Quartz, no fim, não era um ser celestial. Ela era só… ela.
E talvez seja esse o ponto. Talvez ninguém seja tão grandioso quanto parece, e ninguém seja tão insignificante quanto se sente. Talvez o problema nunca tenha sido que os outros são incríveis e eu sou um nada – talvez o problema seja que eu nunca me permiti acreditar que também sou algo além da minha autodepreciação.
A Psicologia da Idealização: Quando Nos Vemos Pequenos Demais
Eu sempre me perguntei por que algumas pessoas parecem ser feitas de uma matéria mais brilhante que a minha. Como se existissem seres que, de alguma forma, tivessem nascido com algo especial – um talento único, uma presença magnética, uma forma natural de pertencer ao mundo. Enquanto isso, eu me sentia como um rascunho falho, uma versão inacabada de algo que nunca chegaria a ser realmente bom.
Por muito tempo, achei que isso era só uma questão de percepção pessoal. Mas estudando psicologia, percebi que há padrões cognitivos por trás disso. Nossa mente não enxerga o mundo de forma objetiva – pelo contrário, ela distorce a realidade o tempo todo, especialmente quando se trata de como nos vemos em relação aos outros.
O Viés da Idealização: O Cérebro Que Nos Engana
A idealização extrema das outras pessoas e a autodepreciação vêm de um viés cognitivo que nos faz filtrar as informações de maneira seletiva. Quando gostamos ou admiramos alguém, tendemos a focar apenas nos aspectos positivos dessa pessoa e ignoramos ou minimizamos os negativos. Esse fenômeno é chamado de viés de confirmação – buscamos evidências que sustentem a narrativa que criamos na nossa cabeça.
Se eu acredito que alguém é incrível e melhor do que eu, meu cérebro automaticamente começará a encontrar provas disso: "Olha como essa pessoa fala bem em público", "Ela é tão confiante", "Todo mundo gosta dela", "Ela nunca parece insegura". Ao mesmo tempo, farei o oposto comigo mesma: cada erro meu se torna uma prova da minha incapacidade, cada insegurança um lembrete de que eu sou inferior.
Outro viés importante aqui é o viés da informação assimétrica. Nós conhecemos todos os nossos próprios pensamentos, medos e falhas internas – mas só vemos o exterior das outras pessoas. Isso significa que, enquanto sabemos exatamente o quanto somos inseguros e cheios de dúvidas, nunca conseguimos ver esse mesmo nível de detalhe nos outros. O que nos leva a acreditar que somos os únicos quebrados, enquanto todo mundo parece inteiro.
Insegurança e Comparação: O Ciclo da Autodepreciação
A sociedade alimenta essa mentalidade. Desde cedo, somos ensinados a nos comparar: notas na escola, habilidades, aparência, sucesso profissional. A comparação vira um hábito automático. Mas o problema é que raramente nos comparamos de maneira justa – quase sempre nos medimos contra alguém que parece estar em uma posição melhor.
E a insegurança amplifica essa comparação. Se eu já me sinto insuficiente, é claro que vou enxergar os outros como mais completos. Se eu tenho medo de falhar, toda pessoa bem-sucedida ao meu redor parece um lembrete de tudo que eu não sou. Esse ciclo só se fortalece com o tempo: quanto mais me vejo como inferior, mais idealizo os outros; quanto mais idealizo os outros, mais me sinto insuficiente.
O resultado? Um estado constante de autodepreciação. Eu me diminuo, me coloco para baixo, me convenço de que nunca poderei ser como aquelas pessoas que admiro. E a pior parte é que isso não vem de um lugar racional – vem de um lugar emocional, profundo, onde a lógica não importa tanto quanto as emoções enraizadas.
Desconstruindo a Idealização: A Humanização do Outro
Se existe uma saída para esse ciclo, ela passa pela humanização. Ninguém – absolutamente ninguém – é perfeito. Todo mundo tem inseguranças, falhas, traumas e momentos de dúvida. Mas enquanto eu aceito meus próprios defeitos como verdades absolutas, os defeitos dos outros parecem irrelevantes ou invisíveis.
O desafio é enxergar as pessoas pelo que elas realmente são, e não pelo que projetamos nelas. Assim como eu, as pessoas que admiro também erram, também choram sozinhas à noite, também sentem que nunca são boas o suficiente em alguma área da vida. A diferença é que eu só vejo a superfície delas, enquanto vejo todas as camadas de mim mesma.
E talvez, no final das contas, o problema nunca tenha sido que os outros são extraordinários demais. Talvez o problema seja que eu nunca aprendi a enxergar a minha própria humanidade com a mesma compreensão e empatia que ofereço para os outros.
O Perigo de Colocar os Outros em um Pedestal
Idealizar alguém é como colocar essa pessoa em um altar dentro da nossa mente. Ela se torna intocável, perfeita, acima de qualquer falha – enquanto nós nos sentimos pequenos demais para estar ao lado dela. E o problema disso é que essa visão não é real.
Por trás da admiração excessiva, existe um grande risco: começamos a nos enxergar como inferiores, acreditamos que não merecemos estar perto dessas pessoas "incríveis" e, sem perceber, criamos dinâmicas de submissão emocional, autoanulação e relações desequilibradas.
O Desequilíbrio Entre Eu e o Outro
Quando vejo alguém como absolutamente superior a mim, isso automaticamente me coloca em uma posição de inferioridade. E essa percepção afeta tudo: como me comporto, como expresso minhas opiniões, como me permito existir ao lado dessa pessoa.
Se eu acho que alguém é inteligente demais, nunca vou me sentir confortável para discordar dela.
Se eu acho que alguém é bonito demais, sempre vou me sentir inadequada ao lado dela.
Se eu acho que alguém é especial demais, vou achar que qualquer coisa que eu faça nunca será suficiente para manter essa pessoa por perto.
Essa dinâmica não é saudável porque distorce a percepção de valor dentro das relações. O outro vira alguém digno de amor, respeito e atenção – enquanto eu me coloco no papel de alguém que precisa se esforçar para ser minimamente aceito.
Submissão Emocional: Quando Achamos Que os Outros Sempre Têm Razão
Um dos maiores perigos da idealização é que ela pode nos levar a abrir mão de nossas próprias necessidades e opiniões para agradar ou impressionar a pessoa que colocamos em um pedestal.
Isso acontece porque, ao vermos alguém como superior, começamos a acreditar que tudo o que essa pessoa diz ou faz tem mais valor do que as nossas próprias vontades.
Isso pode se manifestar de várias formas:
– Em amizades: aceitando coisas que nos machucam só para não perder a pessoa.
– Em relacionamentos amorosos: acreditando que precisamos ser "bons o suficiente" para merecer alguém.
– Em relações familiares ou profissionais: achando que nossa voz tem menos peso do que a dos outros.
A submissão emocional faz com que a gente deixe de se posicionar, de defender nossos limites e, pior ainda, faz com que nos convençamos de que não merecemos ser tratados com o mesmo respeito que oferecemos aos outros.
O Preço da Autoanulação
Outro efeito colateral perigoso da idealização extrema é a autoanulação. Quando achamos que o outro é mais importante, mais especial ou mais valioso do que nós, começamos a nos diminuir, a nos apagar, a evitar qualquer coisa que possa desagradar ou afastar essa pessoa.
Isso pode significar deixar de expressar opiniões, ignorar nossos próprios desejos e até mudar nossa personalidade para tentar se encaixar.
E o problema é que, quanto mais fazemos isso, menos nos reconhecemos. A nossa identidade se dissolve no meio da necessidade de agradar, e passamos a existir apenas em função do outro.
Mas a verdade é que ninguém deveria ser tão grandioso a ponto de nos fazer esquecer de quem somos.
Idealização e Amor: O Medo de Não Ser Suficiente
O impacto mais cruel dessa dinâmica aparece nos relacionamentos amorosos. Quando achamos que alguém é muito incrível para nós, tendemos a agir de duas formas:
1. Nos sentimos indignos e nos sabotamos. Achamos que a qualquer momento a pessoa vai perceber que não somos tão interessantes quanto ela imaginava e ir embora. Então ficamos em alerta constante, tentando não cometer erros, nos comparando com outras pessoas e nos sentindo ansiosos o tempo todo.
2. Nos tornamos dependentes da aprovação dessa pessoa. Se achamos que ela é tão especial assim, seu olhar se torna nossa validação. Se ela está feliz conosco, sentimos que temos valor. Se ela se distancia ou nos critica, sentimos que somos um fracasso. Isso nos coloca em um estado de vulnerabilidade emocional extrema.
E, no fim, isso pode se tornar um ciclo autodestrutivo: quanto mais nos sentimos inferiores, mais tentamos provar que somos bons o suficiente, e quanto mais tentamos provar, mais nos anulamos.
Parar de Colocar os Outros em um Pedestal é um Ato de Respeito – Com a Gente e Com Eles
O problema da idealização não é só que ela nos machuca. Ela também não é justa com as pessoas que colocamos nesse lugar de "perfeição".
Elas são humanas. Elas erram, falham, sentem medo, se sentem inseguras. E quando as colocamos em um pedestal, deixamos de enxergar essas camadas. Esperamos delas uma perfeição que elas nunca pediram para ter.
Talvez o maior aprendizado aqui seja aceitar que ninguém é inalcançável. Que todas as pessoas, por mais incríveis que pareçam, são feitas das mesmas incertezas, dores e contradições que eu e você.
E que, no final, o que torna alguém especial nunca foi a ausência de defeitos – mas sim a humanidade que existe neles.
Rose Quartz Também Era Um Ser Imperfeito – E Você Também Pode Ser
No universo de Steven Universe, Rose Quartz foi durante muito tempo vista como uma entidade quase divina. Ela era a líder da rebelião, a salvadora, a figura que inspirava amor, devoção e admiração absoluta. Para Pearl, ela era a razão de sua existência. Para Garnet, a grande responsável por sua visão de amor e fusão. Para as Crystal Gems, um símbolo de liberdade. E, para Steven, sua mãe mitificada – um ser de luz e perfeição que deixou para ele um legado quase impossível de carregar.
Mas, conforme a série avança, algo se torna cada vez mais evidente: Rose Quartz não era perfeita. Na verdade, ela cometeu erros imensos. Ela escondeu verdades importantes, abandonou responsabilidades e, no fim, deixou para Steven o peso de lidar com todas as consequências de suas escolhas.
E essa revelação foi um choque. Para Steven. Para Pearl. Para todos que a viam como uma divindade inquestionável.
Mas talvez o aprendizado mais profundo dessa história seja justamente esse: ninguém é perfeito.
O Momento em Que Steven Percebe Que Sua Mãe Era Apenas Humana (Metaforicamente Falando)
Steven cresceu com a sombra de Rose Quartz sobre ele. Tudo o que ele fazia era, de alguma forma, influenciado pelo legado dela – tanto pelos momentos de admiração quanto pelos momentos de dúvida.
Mas conforme ele descobre verdades sobre o passado de sua mãe, ele percebe que ela não era a heroína pura e sem falhas que todos pintavam.
Ela abandonou sua antiga identidade como Pink Diamond sem resolver completamente as consequências disso. Ela escondeu informações vitais das Crystal Gems. Ela deixou para trás um filho sem sequer lhe dar a chance de conhecê-la.
Isso não significa que ela não tenha sido uma líder importante ou que suas intenções fossem completamente erradas. Mas significa que ela era um ser complexo, cheio de nuances, capaz de erros e acertos como qualquer outra pessoa.
Essa percepção foi dolorosa para Steven – e muitas vezes também é dolorosa para nós, quando percebemos que as pessoas que idealizamos são muito mais humanas do que gostaríamos de admitir.
Se Ninguém é Perfeito, Isso Significa Que Ninguém Merece Ser Amado?
Às vezes, temos tanto medo de errar que acreditamos que qualquer imperfeição nos torna indignos. Se cometo erros, se falho com as pessoas ao meu redor, se faço algo do qual me arrependo, então talvez eu seja uma pessoa horrível.
Mas não é assim que a vida funciona.
Rose Quartz cometeu erros. Isso fez com que muitas pessoas ficassem magoadas com ela. Mas isso não apagou os momentos em que ela trouxe felicidade, não eliminou as mudanças positivas que causou, nem transformou tudo o que ela foi em algo irrelevante.
E o mesmo vale para nós.
Nossos defeitos não apagam nossas qualidades. Nossos erros não eliminam a possibilidade de sermos amados. Nossa humanidade não nos torna menos merecedores de existir.
A verdadeira questão não é se somos perfeitos, e sim o que fazemos com a consciência de que não somos.
Entre a Aceitação e a Estagnação: O Caminho do Meio
Reconhecer que Rose Quartz tinha falhas não significa invalidar sua importância. Da mesma forma, reconhecer que eu sou cheia de falhas não significa que devo simplesmente aceitar tudo sem tentar melhorar.
Há uma diferença entre aceitar nossa humanidade e usar isso como desculpa para nunca mudar.
Eu posso olhar para minhas atitudes, perceber onde errei e buscar fazer diferente sem precisar me odiar por isso.
Posso reconhecer que nunca serei perfeita sem me render à ideia de que sou um caso perdido.
Posso aprender com meus erros sem deixar que eles definam tudo o que sou.
Se Permitir Ser Humano
No fim das contas, a maior lição que Steven Universe nos dá não é sobre perfeição ou poder. É sobre humanidade. Sobre falhas, crescimento e autoaceitação.
Talvez o maior problema de Rose Quartz tenha sido nunca ter admitido para os outros que ela era apenas uma pessoa cheia de contradições.
Mas nós podemos fazer diferente.
Podemos nos permitir existir sem precisar ser extraordinários o tempo todo.
Podemos aceitar que vamos errar, e que isso não nos torna indignos.
Podemos sair do ciclo de idealização e entender que todas as pessoas – até as que mais admiramos – também carregam suas sombras.
E que tudo bem. Porque o que nos torna reais não é a perfeição, e sim a coragem de seguir em frente mesmo sabendo que somos imperfeitos.
Você Não Precisa Ser um Mito Para Ser Valioso
A idealização é uma faca de dois gumes. Por um lado, é confortável acreditar que existem pessoas acima de nós, que são inatingíveis, que representam tudo o que gostaríamos de ser. Por outro, isso nos coloca automaticamente em um papel de inferioridade, nos condenando à sensação constante de não sermos bons o suficiente.
Mas a verdade é que ninguém é um mito. Nem Rose Quartz, nem aquela pessoa que você admira tanto, nem você.
A ideia de que todo mundo é incrível menos nós é uma distorção da realidade, um reflexo da forma como fomos ensinados a nos ver através de uma lente de autocrítica.
O mundo não é dividido entre seres grandiosos e insignificantes. A vida não é uma questão de estar no topo ou no fundo da hierarquia de valor.
Cada um de nós carrega luz e sombra, acertos e erros, momentos de grandeza e de vulnerabilidade.
E tudo bem.
O Peso de se Sentir Sempre Menos
Viver achando que todo mundo é mais inteligente, mais bonito, mais talentoso ou mais especial do que nós nos coloca em um estado de constante ansiedade.
Isso nos faz nos desculpar por existir.
Nos faz nos esconder.
Nos impede de assumir espaço no mundo.
E, pior, nos impede de enxergar nosso próprio valor, porque estamos tão ocupados olhando para os outros com olhos de admiração que esquecemos de nos olhar com a mesma generosidade.
Mas qual é o propósito disso?
Por que acreditamos que só podemos existir se formos extraordinários?
A Liberdade de Aceitar Sua Própria Imperfeição
Se existe algo que Steven Universe nos ensina, é que não precisamos ser mitos para sermos amados.
A grande jornada de Steven não foi sobre se tornar um herói invencível. Foi sobre aprender a lidar com suas próprias dúvidas, seus erros, seus medos. Foi sobre aceitar que ele não precisava carregar o peso do mundo sozinho.
E essa é uma lição para todos nós.
Aceitar que não somos perfeitos não significa desistir de crescer. Significa nos permitir existir sem a pressão de sermos impecáveis.
Significa entender que não precisamos ser lendas para sermos importantes.
Significa abandonar a ideia de que somos menos, apenas porque não conseguimos ver nossas próprias qualidades com a mesma clareza que vemos as dos outros.
Você Já Tem Valor, Mesmo Que Não Perceba
Talvez a maior mudança que podemos fazer na forma como nos enxergamos não seja nos esforçar para sermos extraordinários, mas sim aprender a nos ver com mais honestidade.
Não somos deuses, mas também não somos insignificantes.
Não somos perfeitos, mas isso não nos torna descartáveis.
Nosso valor não está em sermos mitos, mas em sermos reais.
E talvez, só talvez, se começarmos a nos olhar com a mesma empatia que olhamos para os outros, possamos finalmente entender que nunca fomos pequenos demais para existir.
Referências Bibliográficas
Fontes que me ajudaram na construção do post de hoje:
Beck, A. T. (1979). Cognitive Therapy and the Emotional Disorders. Penguin.
Brown, B. (2012). Daring Greatly: How the Courage to Be Vulnerable Transforms the Way We Live, Love, Parent, and Lead. Gotham Books.
Festinger, L. (1957). A Theory of Cognitive Dissonance. Stanford University Press.
Rogers, C. R. (1961). On Becoming a Person: A Therapist’s View of Psychotherapy. Houghton Mifflin.
Seligman, M. E. P. (2006). Learned Optimism: How to Change Your Mind and Your Life. Vintage.
Steven Universe (2013-2019), criado por Rebecca Sugar. 💗
Você conseguiu expressar de forma muito sincera a sensação de inferioridade e a tendência de idealizar os outros, fazendo conexões ricas entre psicologia, experiências pessoais e referências culturais como Steven Universe.
FINALMENTE FALARAM DE STEVEN UNIVERSO NESSE APP